A metafísica do ato de existir

Santo Tomás de Aquino atingiu uma concepção originalíssima do ser, objeto da metafísica. O ser para o Aquinate, em sentido intensivo, é o ato de existir, aquilo sem o que nada subsiste, fora do qual só pode haver o nada.

Enquanto que para Platão o ser se identifica com a Ideia; para Aristóteles, com a Substância; para Plotino, com o Uno; para Agostinho com o Imutável, para Santo Tomás, diferentemente, o ser é o ato sem o qual nenhuma ideia, substância, unidade ou imutabilidade existiriam. É, em suas próprias palavras, “o ato de todos os atos, a perfeição de todas as perfeições” (De potentia, q. 7, a. 2).

Nesse sentido, se  o grande Platão, em sua inestimável empresa de investigar a inteligibilidade do que é, empreendeu a “segunda navegação”, pode-se dizer que Santo Tomás empreendeu uma façanha ainda maior: a “terceira navegação”, esta, sim, definitiva, pois que  fora do ser, entendido em sentido intensivo (em toda carga semântica do conceito aristotélico de energéia), como o faz Santo Tomás, só existe o nada. Ao ser, assim, cabe a primazia na ordem ontológica. Nada há que o preceda ou condicione.

A modernidade promoveu uma consciência aguda das possibilidades humanas de fazer pelo desenvolvimento da tecnociência. Entretanto, se o homem pode manipular, transformar, projetar, organizar, ele não pode criar (dar o ser) nem aniquilar (tirar o ser). O ser como ato de existir permanece soberano ante as mais extravagantes tentativas do homem moderno de dominação e manipulação.

A metafísica guarda sua atualidade, apesar das ruidosas tendências “desconstrucionistas” atuais, porque o ser, que permanece para sempre, nos incita a procurar o seu sentido. Ele é o sol da inteligência. A legitimidade da metafísica vem do fato de que ela outra coisa não representa senão valente esforço humano de penetrar na inesgotável inteligibilidade do ato de existir. Sem esse esforço o homem já não seria homem.

Padre Elílio

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